Nuno Neves assumiu recentemente a presidência da Direção da SPPCV para o biénio de 2021/2022. Assume-se expectante tanto em relação a esta sua nova função, quanto ao desenvolvimento do tratamento da patologia da coluna vertebral. Apesar de estar ligado à sociedade, há muito anos, e de ter estado envolvido nas anteriores direções, reconhece que “claramente, agora, há uma responsabilidade acrescida” sobre o destino da SPPCV e dos muitos projetos que pretendem concretizar.
Ortopedista desde 2006, afirma que esta especialidade sempre o entusiasmou por ser hands on e por lhe dar a capacidade de influenciar “direta e rapidamente” a qualidade de vida dos doentes. A patologia da coluna vertebral, em específico, é uma área que considera “muito desafiante”, sobretudo por estar em constante desenvolvimento, nomeadamente pelas inovações tecnológicas e técnicas, que, para Nuno Neves, são “muito atrativas”.
Em entrevista, o novo presidente da SPPCV fala dos objetivos a que a atual Direção se propôs, assim como dos desafios que terão de ultrapassar. No seu entender, foi o objetivo primordial desta sociedade científica – de agregar médicos de várias especialidades – e o desenvolvimento da mesma que contribuíram, ao longo dos anos, “para elevar e uniformizar a qualidade dos cuidados” nesta área.
Ser presidente da Direção de uma sociedade científica é uma responsabilidade. O que o levou a assumir esta função?
Nuno Neves (NN) – Ser presidente de uma sociedade científica é um desafio e uma enorme responsabilidade. Significa que os nossos pares confiam na nossa capacidade para cumprir a missão dessa sociedade, o que é, pessoalmente, muito gratificante. Tenho estado envolvido na gestão de diversas sociedades, AOSpine, SPOT e SPPCV.
Sou membro da SPPCV desde a sua criação, na altura ainda como interno, e desde então fiz parte de diversas direções. Candidatar-me à presidência acabou por ser o desfecho natural deste trajeto. É uma oportunidade de colocar ao serviço da sociedade toda a minha capacidade e disponibilidade, depois de tantos anos de dedicação. Estou certo que toda a equipa que me acompanha partilha este entusiasmo.
Na altura, enquanto interno, o que é que o levou a ligar-se a esta sociedade científica?
NN – A área da coluna vertebral sempre foi uma das minhas áreas preferidas. Na altura, preparava-me para fazer o meu estágio em Paris e considerei que pertencer a esta sociedade científica seria, com certeza, uma mais-valia para a minha formação.
Calculo que tenha assumido este cargo com espírito de missão…
NN – Claro!
A que objetivos se propôs?
NN – Pretendemos prosseguir a trajetória de crescimento sustentado da SPPCV, a que assistimos desde a sua criação em 2003, fruto da liderança empenhada das anteriores direções, promovendo iniciativas de criação de valor e de aproximação aos nossos sócios. Apostaremos no reforço do nosso posicionamento na formação, educação e certificação de médicos, cirurgiões e outros profissionais na área da coluna vertebral. Incentivaremos a produção, divulgação e intercâmbio científico, procurando afirmar a SPPCV no contexto internacional, nomeadamente europeu e ibero-latino-americano.
Procuraremos ter uma voz ativa na sociedade portuguesa, alertando para a importância das questões inerentes à prevenção, diagnóstico e tratamento das patologias da coluna vertebral. Queremos uma sociedade ativa e inclusiva, dos sócios e para os sócios.
Não estamos numa altura fácil. Considera que a pandemia Covid-19 poderá pôr em causa algumas das atividades que pretende colocar em prática?
NN – A pandemia Covid-19 veio colocar desafios a todos os níveis e a SPPCV não escapou a esta realidade. No ano transato tivemos iniciativas canceladas e outras alteradas. Graças ao empenho da anterior Direção foi possível encontrar alternativas para contornar esta situação e cumprir a missão da sociedade. Ao mesmo tempo que criou dificuldades, a pandemia veio criar condições para acelerar a transição digital e surgem novas oportunidades e alternativas para as iniciativas a que a sociedade se propõe. A evolução da situação pandémica vai condicionar a forma como as nossas iniciativas vão decorrer e teremos de estar preparados.
E a qualidade do tratamento da patologia da coluna vertebral em Portugal tem sido afetada por conta desta realidade?
NN – É indubitável que a pressão exercida sobre os serviços de saúde condicionou a prestação de cuidados. Muitas consultas e cirurgias foram e estão a ser adiadas, com notório prejuízo para os doentes e bem-estar da população. É fundamental que haja um plano adequado de recuperação deste atraso, mas, infelizmente, a incerteza quanto ao futuro continuará a pesar consideravelmente na vida quotidiana.
Qual o estado da arte do tratamento da patologia da coluna vertebral em Portugal?
NN – A cirurgia da coluna praticada em Portugal está ao nível dos melhores padrões internacionais. De facto, os cirurgiões de coluna portugueses sempre estiveram na vanguarda, adotando cedo inovações como a instrumentação pedicular, placas cervicais, cirurgia minimamente invasiva, e mesmo desenvolvendo técnicas como o primeiro método de instrumentação segmentar de escolioses. Na fase atual assiste-se ao desenvolvimento de tecnologias revolucionárias como a navegação, robótica e inteligência artificial, que poderão mudar a forma como avaliamos os doentes e operamos, e Portugal também está a fazer esse caminho.
A crescente adesão e participação de internos e jovens especialistas nas iniciativas da SPPCV dá-nos confiança quanto ao futuro da cirurgia da coluna em Portugal.
Considera que a criação e o desenvolvimento da SPPCV tiveram grande influência na qualidade do tratamento e do seguimento destes doentes atualmente?
NN – Foi um objetivo declarado da SPPCV agregar médicos de diferentes especialidades, não só cirúrgicas, que se dedicassem a esta área. Isto permitiu o contacto com diferentes visões e soluções para a patologia da coluna vertebral. Não há dúvida que a SPPCV contribuiu para elevar e uniformizar a qualidade da prestação de cuidados na área da coluna vertebral em Portugal.
Quais os projetos futuros da SPPCV?
NN – Para este ano pretendemos retomar um dos projetos mais ambiciosos das anteriores direções, o Diploma Ibérico de Cirurgia da Coluna, realizado em parceria com a GEER, a Sociedade Espanhola de Coluna e a Eurospine. Infelizmente, no ano passado, não foi possível a sua realização, mas estamos confiantes que este ano poderemos ter, não só o curso básico, mas também, pela primeira vez, o avançado, para todos os cirurgiões que entendam candidatar-se.
Iremos também remodelar a newsletter, por forma a torná-la mais atrativa e trazer mais valor para os sócios.
Queremos uma sociedade em que ser membro é uma mais-valia.